Não deixa de ser curioso ver pessoas extremamente conservadoras e defensoras dos “bons costumes”, ainda assim admirarem e valorizarem Ney Matogrosso.
Afinal, como um homem que performava uma figura andrógina, dançava, cantava e ultrapassava os limites da censura conquistou a admiração de um público tão amplo, mesmo com toda a doutrinação presente no cenário da década de 1970, auge do regime militar?
Através da obra cinematográfica “Homem com H”, biografia de Ney Matogrosso, o público é convidado a conhecer a trajetória de um homem que ousou ser livre.
O filme apresenta as diferentes fases da carreira do cantor: sua difícil infância, sua luta por reconhecimento e independência, sua autenticidade, o início na música e a participação na banda “Secos e Molhados”, até o momento em que decidiu seguir carreira solo. Também é abordado o período da epidemia de HIV, que assolou o Brasil e o mundo durante os anos 80, mostrando como o artista lidou com os diagnósticos de pessoas amadas.
“Homem com H” nos leva a refletir não apenas sobre a incrível jornada de superação de Ney Matogrosso, mas também sobre as decisões que tomamos em nossa própria vida: a busca por sermos quem realmente somos e a luta por identidade em meio às tentativas de silenciamento. O filme também instiga o espectador a questionar a permanência de crenças culturais que impõem uma visão rígida e negativa sobre o que significa “ser homem”.
Tudo isso é retratado com a dramaticidade, o erotismo e a personalidade marcante que Ney Matogrosso sempre expressou ao longo de sua vida e carreira. Recomendo fortemente que assistam.
Texto: Magdiel Haar
Veja aqui o Guaxi-Ney, ilustração produzida pelo estudante Kaynã Ribeiro de Moraes.
Direção: Esmir Filho;
Elenco: Jesuíta Barbosa, Romulo Braga, Hermila Guedes, Bruno Montaleone, Caroline Abras, Mauro Soares e Lara Tremouroux;
Roteiro: Esmir Filho;
Disponível em Netflix