Entrevista com Claire L. Evans

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Claire L. Evans é uma escritora, musicista e entusiasta nas áreas da tecnologia, ecologia e cultura. Além de ser vocalista da banda YACHT (inclusive, indicada ao Grammy em 2020), Claire também publicou diversos livros, dentre esses o “Broad Band: The Untold Story of the Women Who Made the Internet” (A história desconhecida das mulheres que criaram a internet), publicado pela Peguin Random House e traduzido para 6 idiomas. Em 2023, a obra foi eleita um dos 10 melhores livros técnicos de não ficção de todos os tempos. Considerando a vasta pesquisa de Evans sobre o silenciamento sofrido pelas mulheres ao longo da história da tecnologia, contatamos a autora para uma entrevista, com o objetivo de fomentar o trabalho da pesquisa “Esquecidas da história”. Tal atividade teve orientação da profª. Bianca Legramante Martins e integrava a Prática Profissional Integrada (PPI) do Curso Técnico Integrado em Manutenção e Suporte em Informática (turma 3º MSI B), do Instituto Federal Farroupilha – Campus São Vicente do Sul. A finalidade foi difundir a participação feminina na tecnologia e encorajar mulheres a entrarem na área tecnológica.

Confira a entrevista que Claire L. Evans nos concedeu:

Claire L. Evans. IMAGE: Jaclyn Campanaro.

1 – Tendo em vista o problema abordado em seu livro “A falta de conhecimento sobre mulheres na tecnologia”, e considerando sua própria carreira, quando você o constatou?

Para ser honesta, como alguém que cresceu em uma casa cheia de computadores e que trabalhou como jornalista de tecnologia por muitos anos – até eu mesma fiquei surpresa ao descobrir como muitas mulheres foram simplesmente excluídas da história da tecnologia. Quando comecei a pesquisar esse assunto, não pude acreditar. E não é o caso de apenas algumas mulheres terem sido ignoradas pontualmente, foram muitas mulheres, e a história delas é mais interessante, inclusive, daquilo que sabemos sobre Steve Jobs, Bill Gates e suas garagens no Vale do Silício. Para uma escritora, esse material era uma mina de ouro.

2 – Que mulheres da ciência e tecnologia influenciaram você?

É difícil dizer. Cada mulher mencionada no livro teve um impacto em mim. Parte do processo de escrever sobre a vida das pessoas implica desenvolver empatia sobre suas experiências e o conhecimento do contexto em que atuavam e estavam inseridos. Muitas mulheres presentes no livro ainda estão vivas e fazem parte de minha vida. Elas enriquecem meu conhecimento do mundo, da tecnologia e daquilo que constitui esse mundo. 

3 – Como foi o processo de resgatar a história dessas mulheres e desenvolver uma pesquisa sobre (publicada em seu livro)?

Em um primeiro momento, foi algo simples: eu li a história e procurei pelo nome das mulheres. Algumas vezes os nomes foram mencionados esporadicamente, de passagem, ou em uma nota de rodapé, ou então o nome constava em uma longa lista dos autores de determinado trabalho. A partir disso, eu procurei por essas mulheres e, quando possível, conversei com elas. Geralmente, como resultado desse diálogo, eu consegui descobrir que seu papel tinha sido muito mais significativo daquele que eu tinha sido levada a acreditar, e assim por diante. Cada mulher com quem conversei indicou o nome de outras mulheres e, assim, eu tinha centenas de nomes. Era praticamente impossível incluí-las todas na versão final do livro. Eu sofri em relação a isso e senti uma grande responsabilidade para representar cada mulher injustamente desprestigiada na tecnologia. Meu primeiro rascunho do livro era praticamente uma enciclopédia! Sua leitura era impossível. Depois de um tempo, contudo, percebi que se eu fizesse bem meu trabalho – se eu escolhesse histórias realmente interessantes, admiráveis e, ao mesmo tempo, de forma acessível, que fossem relacionadas a temas amplos e ajudassem os leitores na compreensão da verdadeira multiplicidade da história, então meu livro Broad Band, a história desconhecida das mulheres que criaram a internet não seria o último livro sobre o assunto.

4 – Considerando que o apagamento histórico de mulheres ainda é muito presente na sociedade, que iniciativas você considera que podem mudar esse cenário?

Esse trabalho sempre parecerá diferente para cada um. Àqueles em posição de poder, promover, compensar minimamente e dar suporte às mulheres será visto como um trabalho nessa área. Para outros, apenas ouvi-las pode ser significativo. Em instituições de ensino, iniciativas compreendem fornecer aos jovens uma perspectiva mais humanística e compreensiva da tecnologia: não apenas ensinar programação, mas mostrar como a programação está emaranhada em um contexto social mais amplo. É preciso que muitos outros livros sejam escritos, expandindo a história que já conhecemos, incluindo ainda mais perspectivas e pontos de vista. E eu espero ansiosamente lê-los. 

5 – Que mensagem você deixaria a meninas/mulheres que desejam ser ou já são ativas na área da ciência e tecnologia?

Essa área pertence a você e sempre pertencerá.

Entrevista: Emilly Vargas Wacht

Tradução: Bianca Legramante Martins

Acesse o website Esquecidas da História e entenda a contribuição histórica das mulheres para a tecnologia.